terça-feira, 22 de março de 2011

NOVAS TURMAS DE HEBRAICO E GREGO

ATENDENDO A INÚMEROS PEDIDOS, A SOCIEDADE DE ESTUDOS BÍBLICOS INTERDISCIPLINARES INICIARÁ, EM ABRIL DE 2011, AS NOVAS TURMAS DE HEBRAICO E GREGO BÍBLICOS. OS INTERESSADOS DEVEM ENTRAR EM CONTATO COM A SECRETARIA DA SEBI, 3257 8596, DAS 14:00 ÀS 18:00 A FIM DE PROCEDEREM A INSCRIÇÃO.
AS AULAS DE HEBRAICO SERÃO ÀS SEGUNDAS-FEIRAS, DAS 19:30 ÀS 22:30, E AS DE GREGO, ÀS TERÇAS-FEIRAS, DAS 19:30 ÀS 22:30, NA SEDE DA SEBI, QNA 36, CASA 16, TAGUATINGA NORTE, PRÓXIMO AO SHOPPING TOP MALL.
AS MENSALIDADES EQUIVALEM A R$ 90,00. NO CASO DO ALUNO CURSAR OS 2 CURSOS, A MENSALIDADE DE CADA CURSO SERÁ DE R$ 75,00.
QUANTO À DURAÇÃO, O CURSO DE HEBRAICO EQUIVALE A 1 ANO DE ESTUDOS, E O DE GREGO A 1 ANO E MEIO.

domingo, 13 de março de 2011

A ALTA CRÍTICA E O FRUTO PROIBIDO - Cyrus H. Gordon


Embora os estudiosos da Bíblia estejam vivendo em uma época de descobertas sem precedentes, ainda demoram-se à sombra da Alta Crítica do século 19. Houve tempo em que o rótulo "conservador" significava alguém que rejeitava as conclusões da Alta Crítica; mas hoje em dia a mente conservadora com freqüência aferra-se à Alta Crítica, embora a arqueologia tenha demonstrado que suas conclusões são insustentáveis. Meus críticos conservadores, alguns dos quais são mestres em seminários protestantes, católico-romanos ou judaicos, não encontram falta em mim porque minhas obras escritas combatem quaisquer posições religiosas em particular, mas porque não aceito a teoria dos documentos JEDS - uma espécie de insígnia de respeitabilidade acadêmica internacional.

COMETIMENTO INTELECTUAL

Todos os meus professores da Bíblia foram partidários conservadores da Alta Crítica, dotados de uma apreciação positiva - e, em algumas instâncias, senhores de um profundo conhecimento - no que conceme às descobertas arqueológicas que envolvem a Bíblia. Fui simultaneamente treinado nos campos da Alta Crítica e da arqueologia bíblica, sem a princípio perceber que essas duas disciplinas são simultaneamente exclusivas. Com isso quero dizer que o cometimento a qualquer estrutura hipotética de fontes infonnativas, como o é a teoria JEDS, não se coad_na com aquilo que considero ser a única posição sustentável para um erudito crítico: ir para onde quer que as evidências colhidas o levem.
Quando falo em "cometimento" à teoria dos documentos JEDS, falo no sentido mais profundo do tenno. Tenho ouvido professores do Antigo Testamento referirem-se à integridade da teoria JEDS como a sua "convicção". Mas dispõem-se a admitir modificações dela quanto a ponnenores. Eles permitem subdivisões (como D 1, D2, D3 e assim por diante) ou combinações (como JE), ou adicionam algum novo documento imaginário, representado por alguma letra maiúscula; mas não toleram que se ponha em dúvida a estrutura básica dos documentos JEDS. E fico perdido quando tento explicar essa espécie de "convicção" sobre qualquer outra base que não seja a preguiça intelectual ou a incapacidade de apreciação.
A reviravolta em minha maneira de pensar ocorreu depois (e, em larga medida, por causa) de um hiato de quatro anos em minha carreira acadêmica, durante a 2! Guerra Mundial. Quando dei baixa no exército e voltei a ensinar, ofereci um curso sobre o Épico de Gilgamés. No décimo primeiro tablete desse épico não pude deixar de observar que a narrativa babilônica sobre a construção da arca contém especificações detalhadas muito similares às do relato bíblico da arCa de Noé. Ao mesmo tempo, lembrei que a descrição contida no livro de Gênesis é atribuída à fonte "S", cuja data seria a do segundo templo de Jerusalém, visto que fatos e cifras como aqueles que dizem respeito à arca de Noé e outras coisas seriam características de um hipotético autor sacerdotal. O que então me ocorreu foi que se o relato do Gênesis pertence à fonte informativa _S", sobre tais bases, então o épico de Gilgamés, em seu relato sobre a arca, também pertence à fonte "S", sobre as mesmas bases - o que é um absurdo. As tradições pré-abrâmicas preservadas no Gênesis (como o caso do dilúvio) não são produtos de uma tardia fonte _S"; antes, são essencialmente pré­mosaicas, não sendo fácil singularizar detalhes dos relatos que porventura sejam tardios. Isso vinha sendo indicado, desde muito tempo antes, pelos tabletes escritos em sumero-acádico. E agora tornou-se cristalinamente claro, através dos textos ugaríticos, onde temas literários inteiros, bem como frases específicas estão em nossa possessão, em tabletes de épocas pré-mosaicas, bem como em nossa Bíblia canônica, que assim realmente é. Portanto, Ezequiel (14.13-19) referiu-se a um antigo Daniel, homem que foi um modelo de virtudes e que surgiu em cena, juntamente com seus compatriotas, em meio a um grande desastre nacional. E agora dispomos do épico ugarítico sobre esse Daniel, em tabletes copiados no século 14 a. c., quando o episódio já era considerado antigo. Tal como muitos dos salmos atribuídos a Davi, o Salmo 68, longe de ser de época mais recente, está repleto de expressões pré-davídicas, algumas das quais nem ao menos eram entendidas antes da descoberta dos poemas ugaríticos. No versículo seis, para exemplificar, a palavra kosharot significa _cantoras", o que também ocorre no ugarítico, de modo que deveríamos traduzir esse versículo como, _tira os cativos com as cantoras", e não _tira os cativos para a prosperidade", conforme diz a nossa versão portuguesa. E essa tradução dá a entender que quando o Senhor nos livra das tribulações, Ele nos confere alívio e também cânticos de júbilo. As kasharot faziam parte da herança clássica cananéia dos hebreus, tal como as musas fazem parte de nossa herança clássica dos gregos.
A pergunta que atualmente fazem os eruditos da Bíblia não é mais: _Quão pós-mosaico (ou pós-exílico) é este ou aquele lance?" mas antes é: "Quão pré-mosaico (ou pré-abrâmico) é este ou aquele lance?"
O impulso de separar a Bíblia (e outros escritos antigos) em fontes informativas, com freqüência deve-se à falsa suposição de que um estilo diferente automaticamente reflete um autor diferente.

AUTORIA E ESTILO

Quando um dado assunto é o mesmo, então estilos diferentes ordinariamente indicam diferentes autores. Mas qualquer autor pode empregar estilos diferentes para diferentes tipos de assunto. Um advogado usa estilos diferentes, tudo dependendo de estar escrevendo ele depoimento ou escrevendo uma carta para sua progenitora. Um pastor não usa o mesmo estilo ao proferir uma bênção durante o culto e ao falar a seus filhos à mesa, na hora do almoço. .Nenhum médico escreve no estilo de suas prescrições, exceto, quando escreve prescrições médicas.
Por semelhante modo, o estilo técnico do livro de Gênesis, ao descrever a arca de Noé, não indica algum autor diferente do da narrativa circundante, da mesma maneira que o estilo usado por um engenheiro naval, ao descrever as especificações de uma embarcação, não o toma um autor diferente de quando ele escreve um bilhete de amor para sua noiva ou namorada.
As mentes incapazes de abarcar entidades inteiras sentem-se tentadas a fracionar o todo em unidades menores. O livro de Jó, a despeito de suas dificuldades, é infinitamente maior em seu conjunto do que a soma de suas partes constitutivas, depois que os críticos o racham em vários pedaços. A literatura do antigo Oriente Próximo e Médio deixa abundantemente claro que o livro de Jó, conforme ele aparece na Bíblia, é uma única composição conscientemente construída. O tipo de crítica que separa o prólogo e o epílogo prosaicos dos diálogos poéticos, por motivos de estilo (ou seja, a suposição de que "prosa e poesia não se misturam") não se coaduna com as regras de composição literária do antigo Oriente Próximo e Médio. Dentre tantas ilustrações disponíveis, queremos destacar o código de Hamurabi, onde as leis, escritas em estilo prosaico, são emolduradas por um prólogo e um epílogo escritos em estilo poético, dando à composição aquilo que podemos designar de formato "ABA". Isso significa que o corpo principal da composição ficou encerrado em uma linguagem de estilo contrastànte. A estrutura do livro de Jó ("prosa-poesia-prosa") exemplifica esse esquema ABA. Outrossim, a estrutura do livro de Daniel C"hebraico­aramaico-hebraico") também reflete esse padrão ABA, e o livro, por isso mesmo, deveria ser entendido como uma só unidade, conscientemente composta dessa maneira.
Ninguém, em seu juízo perfeito, haveria de querer proscrever o estudo das porções componentes dos livros da Bíblia (ou quaisquer outros livros). Antes, toda a sã abordagem da literatura sagrada requer que a aceitemos segundo os seus próprios termos e formas, sem tentar forçá-Ia para dentro de algum sistema estranho.
Uma das razões mais comuns que os eruditos têm aventurado para postular autorias diferentes é a questão das repetições, com variantes, dentro da Bíblia. Essas repetições, entretanto, são típicas da antiga literatura do Oriente Próximo e Médio: entre os babilônios, ugaríticos e até gregos. Ademais, os gostos literários do mundo bíblico requeriam tal duplicação. José, e mais tarde, Faraó, tiveram cada qual seus sonhos proféticos duplicados. No capítulo quatro do livro de Jonas, o desgosto do profeta é descrito em dois estágios diferentes, cada qual acompanhado pela pergunta divina: "É razoável essa tua ira?" (vv. 4 e 9). Poderia alguém insistirem que essa duplicação originou-se de penas diversas?
Certo tipo particular de duplicação é especialmente interessante por causa do material colateral extra-bíblico de que dispomos. O capítulo quatro de Juízes fornece-nos o relato em prosa, e o capítulo cinco do mesmo livro dá-nos a versão poética da mesma vitória de Débora. As duas narrativas apresentam algumas variações do terna. A posição usual dos críticos é que a versão poética é mais antiga, e que a versão prosaica é mais recente. Isso posto, carece de base a suposição de que há disparidade na idade ou na proveniência, entre duas narrativas, sobre bases estilísticas. Os eventos históricos eram algumas vezes registrados no Egito simultaneamente em versão poética e em versão prosaica, com aquelas diferenças apropriadas aos dois estilos literários. (E algumas vezes os egípcios adicionavam urna t_rceira versão - em quadros). Ao abordarmos questões corno a data e a autoria dos capítulos quatro e cinco do livro de Juízes, é mais apropriado ao assunto não nos esquecermos dos costumes e usos do mundo bíblico, em vez de seguirmos os moldes dos modernos eruditos analíticos, os quais constroem sistemas lógicos, mas irreais.




UMA FRÁGIL PEDRA DE ESQUINA                                                         

Urna das mais frágeis pedras de esquina da hipótese dos documentos JEDS é a noção de que a menção a "Jeová" (na realidade, "Yahweh") tipifica o documento "1", enquanto que o nome "Elohim" tipifica o documento "E". A combinação das fontes informativas J e E, supostamente explicaria o nome divino composto Yahweh-Elohim, que aparece no Antigo Testamento hebraico. Tudo isso parece admiravelmente lógico, e durante anos eu nunca pus em dúvida essa teoria. Todavia, meus estudos sobre os textos ugaríticos destruíram essa espécie de lógica com fatos relevantes. Em Ugarite, as divindades com freqüência tinham apelativos compostos. Uma delas chamava-se Qadish-Amrar; outra, Ibb-Nikkal. Por muitas vezes, a preposição "e" aparecia entre os dois segmentos do nome (Qadish e Arnrar; Nikkal e Ibb; Koshar e Hasis, e assim por diante), embora a preposição pudesse ser omitida. Não somente os eruditos bíblicos, mas também os estudiosos dos clássicos terão de reconhecer esse fenômeno.
No Prometeu Amarrado, Kratos Bia-te, ou seja, "Poder-e-Violência", temos uma dessas combinações. Se alguma outra prova ainda fosse necessária, Heródoto proveu-a em sua história (8.111), onde ele relata como Temístocles tentou extorquir dinheiro da parte dos andreanos, dizendo-Ihes que viera com dois grandes deuses, "Persuasão-e-Necessidade." Os andreanos recusaram-se a pagar, e a maneira deles dizerem-lhe que "não se pode extrair sangue de um nabo", foi que, infelizmente, os deuses deles eram "Pobreza-e-Incapacidade." Portanto, havia o costume generalizado de fundir dois nomes em um só, a fim de designar alguma divindade. O caso mais famoso talvez seja o de Amom-Rá, o qual tornou-se a grande divindade universal, em resultado das vitórias militares egípcias, na sua 18_ dinastia. Amam era o deus com cabeça de carneiro da capital, Tebas. E R_ era o antigo e universal deus-sol. A fusão do universalismo religioso de Ra com a liderança política de Tebas, que venerava a Amom, sublinha ess: nome duplo, "Amom-Rã." Contudo, Amom-Rá era tido como uma so entidade. Os estudiosos muito podem fazer, a fim de explanar a combinação dos elementos em Yahweh-Elohim. Yahweh era um nome divino específico, ao passo que Elohim designa a "deidade" em um sentido mais geral e universal. A combinação Yahweh-Elohim mui provavelmente deve ser explicada mediante a fórmula "Yahweh = Elohim", e que poderíamos parafrasear como "Yahweh é Deus." Sem embargo, quando os críticos asseveram que o nome "Yahweh-Elohim é o resultado de uma combinação de documentos", não podemos aceitar tal conclusão, tal como também não podemos compreender que o nome Amom- Rá resulta da combinação de um suposto documento" A" com um suposto documento "R."

AS FONTES GENUíNAS

Documentos mais antigos transparecem em grande parte do Antigo Testamento. Nosso livro canônico de Provérbios foi compilado à base de coletâneas indicadas como "Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel" (Provérbios 1.1); "Provérbios de Salomão" (Provérbios 10.1, sub­título); "São também estes provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá" (Provérbios 25.1); "Palavras de Agur, filho de Jaque, de Massá" (Provérbios 30.1); "Palavras do rei Lemuel, de Massá, as quais lhe ensinou sua mãe" (Provérbios 31.1). Os salmos individuais devem ter existido antes de terem sido compilados os cento e cinqüenta salmos do livro canônico. Muitos deles exibem títulos que os atribuem a autores específicos. Mas há outros livros da Bíblia que não contam com títulos encabeçando o texto. Assim, o rolo de Rute começa com estas palavras: "Nos dias em que julgavam os juízes ..." E o livro de Levítico começa com: "Chamou o Senhor a Moisés ...", e assim por diante. Visto que alguns livros da Bíblia consistem em compilações (como Provérbios e Salmos), e visto que com freqüência omitiram-se títulos (como em Rute ou Levítico), segue-se que certos livros da Bíblia podem ter sido compilações de fontesinfonnativas anteriores, que não foram identificadas por meio de títulos explicativos.
Já que os documentos JEDS são artificiais como fontes informativas usadas pelo Pentateuco, haverá fontes infonnativas reais? Sim, e uma dessas fontes parece ter sido o livro intitulado "livro das Guerras do Senhor", em Números 21.14.
Uma outra antiga fonte informativa, usada pelos autores sagrados dos livros de Josué e Samuel, foi o livro "dos Justos", mencionado em Josué 10.13 e 2 Samuel 1.18ss. A segunda dessas menções é um extrato da bela lamentação fúnebre de Davi por Saul e Jônatas, a qual foi usada para ensinar às tropas de Judá o heroísmo e a habilidade na arte da guerra (no v. 18, para ensinar, mais precisamente, a arte dos arqueiros, aos soldados de Judá). Não se pode duvidar de que o livro dos Justos era um cântico épico nacional, o qual comemorava o heróico curso da história dos hebreus desde, pelo menos a conquista do território sob a liderança de Josué, até o lançamento dos alicerces da dinastia davídica. À semelhança de outros épicos nacionais, incluindo a Ilíada e o Shah-nameh, o livro dos Justos era usado para inspirar guerreiros a viverem, e, se necessário, morrerem, a exemplos de seus, ilustres precursores. Se o livro dos Justos inteiro caracterizava-se pela alta qualidade literária refletida no cântico fúnebre de Davi, então só podemos esperar que descobertas futuras haverão de restaurá-Ia para nós. E provavelmente competirá, com sucesso, com o épico de Homero como uma das obras-primas da literatura uni versa!.
Os livros de Reis dependem de documentos mais antigos, como o "livro da história de Salomão", conforme se lê em 1 Reis 11.41, ou como o "livro da história dos reis de Israel" (1 Reis 14.19) ou como o "livro da história dos reis de Judá" (1 Reis 15.7, etc.). Os livros canônicos de Crônicas citam uma hoste de fontes informativas por seu nome. É chegado o tempo de se fazer uma nova investigação quanto a essas genuínas fontes informativas das Escrituras, particularmente contra o pano de fundo dos papiros do mar Morto.

OS íDOLOS MODERNOS

Parece que não existem dois estudiosos da Alta Crítica que concordem onde começa ou termina a teoria JEDS. A tentativa de precisar esses pontos, na Bíblia Policrômica, lançou no descrédito o uso de cores, mas não a continuação de formulações verbais menos exatas. A "história" de Israel continua sendo escrita com base na premissa de que só podemos fazê-Ia cientificamente de acordo com documentos hipotéticos aos quais suavemente são atribuídas datas exatas. Apesar da maioria dos críticos afirmar que a fonte "S", cronologicamente falando, apareceu em último lugar, atualmente alguns dos mais eruditos dentre eles estão dizendo que a fonte "s" é, na realidade, a mais antiga de todas, ou, pelo menos, que apareceu antes da fonte "D". Qualquer sistema (não importa se "s" é anterior ou posterior a "D", isso não faz diferença em qualquer sistema) que nos entrave de ir até onde os fatos nos conduzam, não serve para mim. Prefiro tratar com a grande cópia de material autêntico proveniente do mundo bíblico, sem qualquer tipo de empecilho da parte de qualquer sistema hipotético.
É possível que haja um número razoável de fontes informativas designadas na Bíblia, embora não sejam geralmente reconhecidas pelos estudiosos. Tal como uma narrativa mais antiga sobre o dilúvio foi incorporada no épico de Gilgamés, assim também uma história variante mais antiga sobre o dilúvio, conforme penso, foi incorporada no livro de Gênesis. O vocábulo hebraico toledot (literalmente, 'gerações') também pode significar "narrativa" ou "história." No trecho de Gênesis 6.9, as palavras "Eis a história (literalmente "gerações") de Noé" bem podem ter transmitido para os antigos hebreus a mesma idéia que um título transmite para nós. O relato sobre a formação da natureza, em Gênesis 2.4ss., foi apresentado com as palavras "Esta é a gênese dos céus e da terra ..." (_teralmente, "as gerações dos céus e da terra"), e talvez essas palavras tivessem o propósito de servir de título, indicando alguma fonte bíblica.
Mantenhamos os olhos bem abertos e as mentes bem atentas. Façamos observações e averigüemo-Ias contra os fatos disponíveis. Mas não levantemos, altos edifícios sobre a areia movediça.
As escavações feitas em Ugarite têm revelado uma cultura material e literária bastante elevada em Canaã, antes do aparecimento dos hebreus. A prosa e a poesia já estavam, então, bem desenvolvidas: O sistema educacional estava tão avançado que tinham sido preparados dicionários em quatro idiomas para uso dos escribas, e os vocábulos individuais foram alistados em seus equivalentes ugaríticos, babilônios, sumérios e hurrianos. Os primórdios de Israel estão arraigados em uma Canaã altamente cultivada, onde tinham convergido e se misturado as contribuições de vários povos talentosos (incluindo os mesopotâmios, os egípcios e vários ramos dos indo-europeus). A noção de que a religião primitiva de Israel e sua sociedade eram primitivas é uma idéia inteiramente faisa. Nos dias dos patriarcas, a terra de Canaã era o centro de uma grandiosa cultura internacional. Visto que a Bíblia proveio dessa época e desse meio ambiente, ela não pode ter sido escrita sem lançar mão de fontes informativas. Porém, compete-nos estudar as fontes informativas usadas pela Bíblia de acordo com os próprios termos bíblicos e em contraste com seu pano de fundo autêntico, sem apelar para as meras hipóteses.
Se existe alguma expressão no idioma hebraico que está carregada de significados para a pessoa intelectual que se devota à sua herança bíblica, essa expressão é simhat torah, ou seja, "deleite no estudo das Escrituras." Estou familiarizado com esse deleite, e aprecio ver outras pessoas terem a oportunidade de experimentá-lo. E sinto-me desolado ao ouvir tantos inteligentes e sérios estudantes universitários dizerem que seus professores da Bíblia mataram o assunto, ao aferrarem-se à noção de que o estudo da Bíblia consiste em analisar o seu texto em fontes JEDS. A conclusão nada edificante de todos os estudos dessa natureza é que coisa alguma ali é autêntica. É um perverso milagre que esse tipo de ensino prossiga em plena época de grandes descobertas, e quando a erudição bíbliCa é tão edificante.

Um professor da Bíblia, em uma de nossas principais universidades, certa feita pediu-me para eu dar-lhe os fatos a respeito das fontes informativas JEDS. E eu retorqui essencialmente conforme escrevi acima. Ele respondeu: "Estou convencido através do que você acabou de dizer-me, mas continuarei ensinando o antigo sistema." Quando lhe perguntei por quê, ele retrucou: "Porque aquilo que você me disse significa que eu teria de desaprender o que ensino, reestudando e repensando tudo. E é mais fácil prosseguir com o sistema geralmente aceito da Alta Crítica, acerca do qual já possuímos manuais padronizados." Que feliz professor! Ele se recusa a perder o seu lugar no jardim do Édell, por provar o fruto da árvore do conhecimento.

Reimpresso de Christianity Today 23 de novembro de 1959. VoI. 4, págs.131-134
Usado com permissão.


terça-feira, 8 de março de 2011

QUEM É SATAN NO LIVRO DE JÓ


No mês de agosto, 2009, comecei a pregar sobre a questão do sofrimento na igreja que pastoreio, a Episcopal Carismática de Brasília. Todavia, para uma correta compreensão do livro e de sua mensagem, é necessário desmistificar a figura de satan na história. Antes, gostaria de deixar claro que creio na existência de Satanás e no seu poder (ainda que limitado) para enganar e aprisionar as almas. Assim, creio em possessão demoníaca, opressão maligna, e todas as demais coisas que a fé cristã tem declarado, historicamente, sobre a ação do diabo. Isto, porém, não me obriga a ver o diabo em todo lugar da Bíblia e a interpretar o termo satan como Satanás quando, claramente, o texto não o afirma.
A fim de evitar que você se perca nas meditações sobre o sofrimento, decidi postar este artigo antes, para que a leitura, posterior, flua melhor. Aqui, pretendo demonstrar porque satan, em Jó (e que fique bem claro isto, no livro de Jó), não refere-se a Satanás, mas a um anjo da corte celeste, cuja função é a execução punitiva da vontade do SENHOR e por à prova o coração dos homens diante de Deus. Há 8 pontos para serem ponderados:
1.      Do ponto de vista linguístico, temos um sério problema. O termo satan, em hebraico, é precedido de um artigo, lendo-se, neste caso, hasatan. Ora, quem conhece hebraico sabe que, neste caso, não se trata de nome próprio, mas de um título que exige tradução, sendo esta a de “acusador”. Porque estamos acostumados a ver o diabo como “acusador”, interpretamos a passagem, imediatamente, como se referindo a ele. Acontece que no Antigo Testamento há um anjo da corte celeste que recebe este título também por causa de sua função, uma espécie de “promotor” da corte. Além disso, ele se faz presente no Êxodo (na matança dos primogênitos), com Saul (atormentando sua vida), no censo de Davi, e na corte, novamente, acusando o sacerdote Josué (Zacarias 3.1).
2.      Em 1.6 se diz: “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também satan entre eles”. Observe que o texto afirma, “entre eles”. Talvez isto não fique claro para você, mas em hebraico a ideia refere-se a alguém daquele grupo. Ou seja, satan era contado entre os filhos de Deus, expressão que se referia aos anjos dos céus (é importante observar que filhos de Deus aqui em Jó não é a mesma coisa que filhos de Deus em Gênesis 6.2, o qual diz respeito à descendência adâmica).
3.      Do ponto de vista teológico, surge outra questão. Se satan, em Jó, fosse Satanás, teríamos uma situação complicada, pois nesta ocasião este já teria sido expulso dos céus por causa de sua rebelião. Em 2.1 este satan volta a se apresentar diante de Deus com  os demais anjos. Se ele foi expulso do céu, de onde vem esta liberdade para ficar entrando no céu sem reprimenda de Deus? Muitos teólogos falam da “vontade permissiva de Deus”, mas esta é uma dedução que não pode ser tirada do texto, pois o mesmo nada fala desta vontade. A leitura natural do texto é que tal figura era um anjo da corte, e não o inimigo de Deus e de nossas almas, o diabo.
4.      Em 1.19 se fala de fenômenos da natureza que teriam provocado a morte dos filhos e filhas de Jó. Neste sentido, toda a teologia bíblica afirma que tal poder sobre a natureza somente Deus tem. É por isso que os discípulos ficam assustados quando Jesus manda o vento e o mar acalmarem.
5.      Do ponto de vista literário, o sofrimento de Jó, em momento algum, é atribuído ao diabo, mas a Deus. Quando todos os males veem sobre Jó, sua mulher ataca sua integridade diante dos males e recebe como resposta: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10). Observe, Jó tem como certo que o mal, sofrimento, que recebe vem de Deus, e não do diabo.
6.      Os amigos de Jó em momento algum cogitam da possibilidade daquele mal vir de Satanás, mas em todo momento entendem que procede de Deus por causa de algum pecado de Jó.
7.      A partir do capítulo 38 Deus entra em cena e assume para si toda a situação manifestando sua soberania. Novamente, nenhuma acusação é feita a Satanás.
8.      No final do livro, cap. 42, a sorte de Jó é mudada, e por isso, seus parentes vem festejar com ele. No v.11 se diz: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quanto dantes o conheceram, e comeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado”. Observe, o mal, sofrimento, é atribuído a Deus, e em momento algum se fala do diabo.
Não estou fazendo uma apologia do diabo, não. Apenas estou fazendo uma análise literária e lexicográfica do sentido de satan, em Jó. E neste sentido, o termo refere-se ao anjo da corte celeste. Por que este entendimento é importante?
1.      Porque desmistifica as elucubrações e devaneios dos proponentes da “batalha espiritual” que fica atribuindo ao diabo mais poder do que, de fato, ele tem.
2.      Porque desfaz a teologia maniqueísta de que Deus e o diabo estão num confronto por representarem forças iguais. O diabo, de si mesmo, nada mais é do que um ser vencido pelo sangue do Cordeiro, o nosso Senhor e Salvador Jesus.
3.      Porque nos ajuda a entender a soberania e a natureza de Deus em meio ao sofrimento. O nosso Senhor não é escravo da nossa vontade, podendo dar-nos tanto o bem quanto o mal, do jeito que quiser e quando desejar, visando o nosso crescimento.
Creio que a partir deste entendimento o livro de Jó se mostra mais encantador, pois nos revela um Deus soberano, amado não pelo que dá aos seus servos, mas pelo que é, Senhor e galardoador da vida.
A paz de Cristo.
Pr. Airton Williams

quarta-feira, 2 de março de 2011

PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA - INÍCIO DAS AULAS

É com alegria que a SEBI comunica o início das aulas dos programas de Teologia Sistemática e Aconselhamento Bíblico, dia 18 de Março de 2011, das 19:30 às 22:30, nas dependências da Faculdade Mauá de Brasília. As inscrições estão abertas, com desconto, até o dia 10 de Março, na sede da SEBI.